Via Franca

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sexta-feira, 3 de julho de 2020

Quarentena - 3º dia


Três de abril, sexta-feira...
Ainda não havia me acostumado em levantar tantas vezes durante a noite... Mesmo com uma rotina de remédios, a madrugada entre a meia noite e as seis da manhã deveria ser tranquila. Mas, como ele tinha que hidratar-se muito durante o dia, a necessidade de ir ao banheiro era evidente... Toda vez que eu ouvia ele tocar no andador, eu acordava e apurava o ouvido para entender qual seria a ação. não só nessas primeiras noites, como em muitas outras, eu levantava também para ir ao banheiro e aproveitava para dar uma olhada se estava tudo bem com ele. Como havia uma lampadazinha verde no quarto, que dava uma luz de pirilampo, eu conseguia ficar alguns segundos observando o sono dele... Deve ser a mesma sensação que um pai tem ao fiscalizar o dormir de um filho recém nascido. Neste período, ele me relatou vários pesadelos que teve e, em muitos, a dificuldade em correr de algo sempre o afligia.
Mais uma vez, o dia foi moroso, com o nosso programa favorito: escutar músicas, fato que, em casa, tinha um atrativo maior, pois a minha mãe tem uma dessas caixinhas que potencializa o som do celular, deixando este deleite sonoro quase perfeito.
Lembro-me que sempre entrávamos em calorosas contendas sobre qualquer assunto, com doses fortes de teimosia (a minha é genética e paterna) e a que mais curtíamos discutir, além do futebol é claro, era sobre os compositores de música erudita... Como eu, El Cid não era músico, muito menos estudioso sobre o tema (não tocava nenhum instrumento também), mas era um amante da música clássica, paixão que passou para mim desde a infância. Conversávamos muito sobre óperas, árias, compositores, tenores, sopranos, etc e tal. E muitas vezes, defendíamos pontos de vista diiferentes só para acirrar uma discussão deliciosa... Ele adorava dizer que Puccini era o maior de todos e eu, só para discordar, falava que era o Verdi. Daí, recorríamos a um aplicativo de música e escolhíamos várias árias para provar a nossa opinião... Ele geralmente deixava "Ó Mio Babbino Caro" para encerrar a discussão (o Nessum Dorma com o Pavarotti era proibido de ser usado como argumento, rsrs). De fato, com ela, sempre concluíamos que Puccini era maior que Verdi, até um próximo embate, é claro.

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