Via Franca

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sexta-feira, 24 de julho de 2020

Quarentena - 24º dia


Vinte e quatro de abril... Sexta-feira...
O dia começou com menos dor, mais esperanças dele voltar a caminhar sem a ajuda de muletas ou do andador.
O meu pai nunca foi muito de ir ao médico... Sempre foi sistemático com dores e doenças. Raramente o víamos reclamar de algo, neste sentido.
Lembro-me, quando criança, que ele foi ao dentista arrancar todos os dentes, por conta de uma nevralgia... Que curava qualquer ferida com iodo e acabava com piolhos usando Neocid (veneno para formigas) nas nossas cabeças.
Ainda me lembro do olhar dele para mim, quando uma ex-namorada observou que as canelas dele estavam com a pele muito seca e se ofereceu para passar um creme.
Eu sempre fui o oposto dele... Desde criança sempre fui de médicos e doenças... Um moleque fraco para essas coisas. Bronquite, rinite, sinusite, resfriados mil...
Hoje, imagino quantos perrengues os meus pais passaram comigo. Por várias vezes, as madrugadas deles eram no pronto socorro, comigo, e no outro dia, bem cedo, já teriam que trabalhar, cumprindo horários e funções. Sou grato a eles...
Por isso, quando tive que amparar o meu velhinho, ajudando-o a tomar banho, a se barbear, fazendo vezes e enfermeiro e até amparando-o para evitar quedas, senti-me estranho... Eu não estava preparado para isso (acho que ninguém nunca está). Ainda hoje o grito de "me segura, filho" de uma quase queda dele, me machuca a consciência... Quem sempre me amparou e segurou foi El Cid, não o contrário...
A gente se prepara para muitas coisas na vida, mas para outras nos guardamos, fingimos que nunca irão acontecer, daí o sofrimento é maior...


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