Via Franca

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domingo, 12 de julho de 2020

Quarentena - 12º dia


Doze de abril... Domingo...
Domingo, como sempre, dia de reunião familiar na chácara dos meus pais... E hoje, ele está mais animado.
Já tivemos vários animais, mesmo a contragosto da minha mãe que nunca gostou muito de criações, a não ser dos frangos e galinhas para consumo de ovos da carne... Quando pequeno "herdamos" de um tio que se mudou da cidade, um pássaro preto criado desde filhote em uma pequena gaiola, que deixava apenas o meu pai fazer cafuné na sua cabeça (tinha que chamá-lo dizendo que ia "catar piolho") e que sempre derrubava o potinho de água, depois de tomar banho nele. Tivemos também um "cachorro comunitário", que vivia conosco na rua e dormia uma noite em cada quintal, pois a minha mãe e as dos meus amigos não aceitavam que criássemos um... Quando éramos perguntados sobre o motivo daquele cachorro" estar no quintal, sempre dizíamos que ele era do outro moleque e que estaria ali só por aquela noite (muito tempo depois, meu pai me disse que ele sacava aquele nosso lance, mas não tinha coragem de nos "entregar")... Havia também um papagaio criado solto no quintal da minha avó que ficava entre as laranjeiras, uma codorninha que apareceu do nada na minha casa e foi acolhida como membro da família e seguia o meu pai por toda parte (ele acocorava e ela se escondia nele).
Um traço muito legal do seu Edercides era esse: a facilidade de interação com os bichos, de pelos, penas e escamas... Sempre tivemos galos e galinhas na chácara que acompanhavam ele por toda a parte. Nunca vi uma pessoa que chegava perto dos passarinhos, aqueles livres, soltos, sem espantá-los... Eles viam o meu pai e se aproximavam. E ele conversava com eles... Eu brincava que para ele colocar quirela de milho para os canarinhos da terra, perto da horta, tinha que esconder o pote, pois os bichinhos quase avançavam sobre a comida, antes dele colocá-la no cochinho improvisado em um pedaço de bambu... Quando eu me aproximava, ele voavam rapidamente, pousando em árvores bem distantes.
Uma das preocupações dele, incumbindo a minha irmã caçula era de continuar a alimentar os "bichos da chácara" (a bambeza das pernas já não o permitia se aventurar por entre o pomar e a horta).
O barato é que mesmo quieto, sem se locomover por outros cantos da propriedade o "galo Chico" o seu fiel escudeiro sempre fica ao seu lado, passando o dia à la "Sancho Pança"...
Teve até a pachorra de montar uma caixinha num armário velho da varanda da nossa casa, para acomodar um enxame de arapuás que apareceu lá. Ele se refere a elas como "minhas abelhas", rsrs...
O amor dele é visível nestas relações com os bichos... Nos ensinou a amar, respeitar e conviver, na prática, com exemplos cotidianos.


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