Via Franca

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sábado, 27 de fevereiro de 2016

Petar - Parque Estadual Turístico Alto do Ribeira

O Parque Estadual Turístico Alto do Ribeira (ou simplesmente Petar, como é conhecido) fica um pouco mais de 300 Km distante da cidade de São Paulo, nos municípios paulistas de Iporanga e Apiaí, quase na divisa com o estado do Paraná e é uma das mais antigas unidades de conservação do nosso estado (o parque foi criado em 1958).
Tem mais de 35 mil hectares (75% no município de Iporanga) e para quem não tem noção desta medida, entenda que é "bem grande", mas ainda insuficiente para preservação do rico patrimônio natural e espeleológico da região do montante do rio Ribeira do Iguape e adjacências.
Possui vários trechos de Mata Atlântica primária e outros tantos recuperados de antigas fazendas e terras devolutas. A vegetação do local é extremamente diversificada, rica em espécies, que variam desde árvores de tamanho considerável, como as canelas e os cedros, palmeiras (como a juçara) e as lindas e exóticas epífetas (bromélias, orquídeas e lianas). Trilhas bem seguras e sinalizadas conduzem os visitantes pela mata até os rios de águas cristalinas e cachoeiras que cortam a região.
A fauna também é muito rica (inclusive, de pernilongos e mosquitos, rsrs, o que recomendo ir bem protegido com um bom repelente), variando desde insetos, lindas aves com os seus cantos característicos, anfíbios (alguns que só existem no parque), répteis e mamíferos, como os serelepes esquilos (catinguelês), espécies de primatas como os monos carvoeiros e até mesmo o maior felino brasileiro, a onça-pintada, que encontra na extensão do Petar e de outros parques da região (Carlos Botelho, Jacupiranga e Intervales, entre outros), um contínuo de território necessário à sobrevivência da espécie (até hoje nunca vi nenhuma, já que possui hábitos noturnos, mas já fotografamos pegadas delas).
Pela riqueza da fauna, flora, pelos rios límpidos e cachoeiras refrescantes, já valeria a pena conhecer a região, mas ainda existe um outro atrativo que faz da região um dos lugares mais visitados no nosso estado: o Petar possui mais de 400 cavernas catalogadas pela SBE - Sociedade Brasileira de Espeleologia.
A maioria delas não está aberta ao turismo, mas aquelas que podem ser adentradas já justificam o tempo que levamos para chegar até lá.
A minha preferida é a gruta de Santana, considerada a segunda mais extensa do nosso estado e, com certeza, uma das mais lindas do Brasil. É rica em espeleotemas (as formações que vemos dentro das grutas) como travertinos, estalactites (formações pontiagudas que ficam no teto), estalagmites (similares arredondadas, encontradas no chão), helictites, cortinas, entre tantas outras... A visita dentro desta gruta (que não possui iluminação, nem passarelas, como todas as outras do Petar) demora em torno de duas horas e tem que ser acompanhada de monitor ambiental. Também há um limite máximo de visitantes por dia, exigência do plano de manejo e conservação feito para obter a autorização do IBAMA para a sua visitação.
Outras que eu recomendo no Núcleo Santana são a Água Suja (que apesar do nome é acompanhada de um rio bem limpinho em toda a sua extensão), com direito a um delicioso banho de cachoeira no final do seu trecho turístico, a Gruta do Couto, onde entramos por uma "porta" de 10 metros de altura e saímos por uma estreita abertura, que mal cabe o nosso corpo (alguns grupos fazem o caminho inverso) e Morro Preto.
Já no Núcleo Ouro Grosso, é bem legal a caverna de Alambari de Baixo, que leva uma hora de caminhada por uma antiga estrada com um lindo visual da Serra dos Mota e da Serra dos Camargo, até chegar na sua entrada, que possui 10 metros de altura e 20 de largura (bem grande, por sinal). O trecho interno é bem curto e fácil, mas vale a pena a sua saída, feita no leito subterrâneo do rio Alambari, que varia de 1 metro a 1,5 de profundidade, dependendo das chuvas nos dias anteriores. A saída é bem estreita. No mesmo núcleo há a homônima Gruta de Ouro Grosso, sem muitas formações espeleológicas, mas com um grau de dificuldade maior, com escaladas e muita água.
Existem outros núcleos e cavernas abertas aos turistas, mas que exigem maior preparo físico e disponibilidade de tempo. Sobre elas (como a Casa de Pedra, Terminina, entre outras) vou escrever outro post.
É importante lembrar que a entrada no Parque custa 12 reais por pessoa, que há a necessidade de se contratar guias locais credenciados (um para cada oito pessoas), ter o equipamento mínimo para a visitação (capacetes, lanternas, camiseta com manga, calça comprida e tênis adequado) e muita disposição.
Mas, garanto que você nunca mais verá a natureza com os mesmos olhos depois que voltar do Petar. Há o risco de se contaminar e querer voltar por muitas e muitas vezes, principalmente depois que conhecer o outro elemento extremamente rico da região: o ser humano que habita e cuida do local, representado na figura dos guias e monitores ambientais. Muitas histórias, um bom humor e simpatia ímpares, muita cordialidade e vontade de mostrar toda a riqueza ambiental e humana da área. Já tenho muitos amigos, que sempre faço questão de abraçar quando volto com grupos: o Jura (filho da lenda JJ, um dos primeiros exploradores do local), Ditinho (quilombola com histórias deliciosas), Hudson, Alex, o Preto (da Pousada das Cavernas), entre tantos outros.
Quem quiser também pode visitar os vários quilombos que existem em todo o vale (eu recomendo o Ivaporunduva, que possui melhor infra-estrutura). Ou então, descer o tranquilo Rio Betary em boias (boia-cross).
Inclusive, nós da "Trilha e Imagens" (projeto meu e do fotógrafo Leandro Zermiani) e Via Franca Turismo (a minha agência) estamos sempre na região, com grupos de amigos e aventureiros. O próximo sairá de Guarulhos na noite do dia 11 de março (6ª feira), ficando até o dia 13 (domingo), com retorno após o almoço.
Interessados entrem em contato com leandro@leandrozermiani.com
E vamos a mais uma aventura!!!!!!!!!!!

Observação: foto que ilustra a matéria by Leandro Zermiani (Trilhas e Imagens) e mapa retirado do site da Ecocave.


sábado, 20 de fevereiro de 2016

Passeando pelo centro velho de São Paulo

Muitos paulistanos conhecem muito bem o centro antigo da sua própria cidade.
Vários deles trabalham nele ou passam algumas vezes no local, por semana, para resolver algum compromisso pessoal ou de trabalho.
Mas, mesmo estas pessoas, muitas vezes não prestaram atenção na riqueza de detalhes e na beleza estética que possui este local da metrópole.
Por isso, vários grupos se reúnem para fazer roteiros turísticos pelas principais ruas e monumentos do centro velho...
Tem a gostosa sensação de "sentir-se turista na sua própria cidade".
Amanhã (dia 21 de fevereiro) um amigo fotógrafo e eu, estamos montando o nosso próprio grupo espontâneo para trocar informações sobre a parte histórica da cidade e também sobre fotografia no dia a dia (aquela feita com o nosso celular).
Marcamos o encontro nas catracas do Metrô da estação São Bento (nada mais paulistano que se encontrar nas catracas do metrô, rsrsrs) e, a partir de lá, vamos circular e conhecer alguns detalhes pitorescos da nossa cidade.
Não é pretensão dizer que usamos praticamente todos os nossos sentidos neste tour... Desde o sabor de um bom cafezinho em alguma das cafeterias mais tradicionais do local, passando pela textura das suas diferentes construções, sentindo aromas nem sempre agradáveis (que são frutos da grande desigualdade que é bem visível naquele local), sons de artistas de rua, carros e as belas vistas que conseguimos nos seus mirantes mais conhecidos.
Amanhã, vamos priorizar os aspectos de ocupação e crescimento da cidade, desde os jesuítas até os grandes fluxos de migração interna.
No Pátio (ou Páteo) do Colégio descobriremos uma vila que teve um crescimento ínfimo até a segunda metade do século XIX (em 1890 a cidade possuía apenas 70 mil habitantes), mas que depois do crescimento econômico gerado pela lavoura cafeeira, atraiu muitos imigrantes principalmente italianos (que eram chamados de "carcamanos" pelos locais).
Na região, é possível conhecer algumas das edificações mais antigas da nossa cidade, como a casa número 1 (onde funciona o Museu da Cidade, seçõ conhecida como "Casa da Imagem", que guarda nas suas paredes um mapa muito antigo do local) e o "solar da Marquesa de Santos" (que teve entre tantos proprietários a dona Domitília de Castro e Canto Melo, a Marquesa de Santos), com suas histórias de festas e saraus que agitavam a provinciana vila na metade do século XIX...
Dali, seguiremos pela rua XV de Novembro passando pelos fundos do Centro Cultural Banco do Brasil (que fica na Rua Álvares Penteado, 112) que está recebendo uma significativa exposição do genial artista holandês Mondrian (criador do neoplasticismo). Se tivermos sorte e pegarmos uma fila pequena podemos até subir e conferir algumas das suas obras.
Voltando na rua XV vamos observando a variação arquitetônica do local, com a desconstrução e reconstrução de estilos que forem se sucedendo na medida que o capital ia sendo injetado na cidade e também fruto do enriquecimento de muitos imigrantes da época, que investiam parte dos seus recursos no campo imobiliário (muitos deles nos presentaram com a beleza do ecletismo italiano, facilmente observável e identificável neste nosso tour).
Com o crescimento industrial de São Paulo, que foi o responsável direto pelo "boom" da expansão urbana e demográfica da capital, os estilos foram se sucedendo, chegando a Art Nouveau (pronuncia-se "aʁ nu'vo"), a Art Déco, a Arquitetura Fascista e outras mais modernistas.
Paramos no emblemático Edifício Martinelli, chamado de "bolo de noiva" pelo escritor Oswald de Andrade e, se for permitido (já que as visitas estão suspensas pela prefeitura), subiremos para observar parte da cidade pelo seu mirante (localizado no 26º andar). Várias histórias interessantes fazem deste local uma das mais comentadas e intrigantes edificações da metrópole.
De lá, seguiremos pela rua São Bento, passando pelo Largo do Patriarca, Viaduto do Chá (com a sua bela vista para o degradado Vale do Anhangabaú) e Theatro Municipal (que infelizmente está fechado para visitantes, no domingo)...
O almoço será no Shopping Light, também localizado em um prédio histórico, inaugurado em 1929 (o edifício Alexandre Mackenzie, que foi sede da Companhia canadense São Paulo Tramway, Light and Power Company ou simplesmente "Light" que foi responsável pela iluminação da cidade entre 1899 e 1981).
Valendo-se do ditado "barriga cheia, pé na areia", depois do almoço finalizaremos o nosso tour na Praça da Sé. Para chegarmos lá iremos pela famosa rua Direita, onde poderemos observar o interessante edifício Ouro Para o Bem de São paulo, construído com recursos obtidos pela doação de bens (ouro, principalmente) das famílias mais tradicionais da elite paulistana no contexto da Revolução Constitucionalista de 1932.
Na Praça da Sé, o nosso objetivo é adentrar a famosa catedral, inaugurada inacabada em 1954 (ainda não tinha as suas torres) e, se tivermos sorte, conhecer a sua cripta (uma espécie de capela subterrânea onde guardam os restos mortais dos arcebispos, bispos e personagens históricos), pois ela fica aberta até às 15h.
O Cptec/Inpe e o Climatempo dão como previsão para o domingo, uma manhã ensolarada e possível chuva à tarde (que acredito não irá atrapalhar a nossa caminhada).
Então, quem quiser compartilhar conosco, muitas experiências históricas, culturais e geográficas, nos encontre nas catracas do metrô São Bento às nove da manhã...
E vamos explorar São Paulo...

Obs.: imagem da catedral by Leandro Zermiani (Trilhas e Imagens)