Via Franca

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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Suco de coco

Basta procurar no Google que você vai encontrar muitas sugestões para fazer o saborosíssimo suco de coco... Vou colocar a minha, que faço desde sempre... Um aviso, fica extremamente calórica, muito forte mesmo, mas o sabor é único!!!!

Vou dar sugestões de medidas, mas você pode variar, de acordo com o seu gosto...

Eu uso uma garrafinha pequena de leite de coco (200ml), a mesma medida de leite (prefiro o desnatado) e também 200ml de água de coco (aquela de caixinha, mesmo)... Bato tudo no liquidificador, com umas gotinhas de adoçante e mesmo com todos os ingredientes gelados, pode também colocar umas pedrinhas de gelo.

Fica delicioso... Alguns, inclusive, chamam de frapê de coco ou até de vitamina!!!!

Chame como quiser, rsrs, mas experimente... Depois me conta.

sábado, 23 de janeiro de 2021

Educação e cidadania - a questão do descarte de resíduos


O tema renderia um livro, mas serei bem sucinto e direto, utilizando-me de apenas um exemplo: a questão do lixo.

Há, por estes tempos, discussões acaloradas sobre tudo, num dualismo insano... Tudo parece se resumir entre visões de direita e esquerda, entre Bolsonaristas e contrários... Mas, na prática, vai muito além disso... Independente da visão ideológica (ou da ausência dela) há de se destacar que a consciência política, social, ambiental, ou melhor, humana mesmo, está em baixa, muito aquém do que esperamos para ter uma evolução naquilo que podemos imaginar para uma vida coletiva razoável.

Volto a repetir, ficarei apenas na questão do descarte de resíduos por parte da população... Quem separa o seu lixo (ah, "aquele lance dos recicláveis", isso mesmo)? Quem o acondiciona de maneira adequada e o descarta nos lugares corretos? Quem se informa e reproduz mensagens conscientes sobre o destino do que não mais desejamos, nas nossas casas? 

Andando de bicicleta, em uma avenida da minha cidade conhecida como Anel Viário, dias desses vi e fotografei as cenas que me indignaram e me fizeram escrever esta postagem...

Lixo e entulhos espalhados pela sua extensão (percorri apenas um pequeno trecho dela), colocados pelos próprios moradores... O que me deixa mais estarrecido é que há coleta regular e um centro de descarte de resíduos na região (que aceita praticamente tudo, menos o lixo doméstico, que já é recolhido pela concessionária autorizada pela prefeitura)...

Então, pensei bastante sobre tudo isso e é clara a necessidade de uma educação social e coletiva mais abrangente... Isso deveria ser iniciado na família, na criação dos filhos, estabelecido um contrato social para que todos entendessem a obviedade de certas regras para convivência mútua... Faz falta também uma educação formal com mais credibilidade, ou seja, uma escola que tenha as suas lições levadas a cabo pelos seus alunos e familiares, já que parte do que acontece em sala de aula, as suas discussões não são colocadas em prática... E também, claro, o cumprimento das leis já existentes e a fiscalização mais rigorosa  para coibir estes atos de agressão ao meio ambiente urbano... Além de vetor de doenças, o lixo espalhado pelas ias públicas causa outros impactos, como enchentes, mau cheiro, impacto visual negativo, atração de roedores, baratas e escorpiões, entre tantas outras coisas...

E não adianta tentar justificar com a questão de classes, atribuindo as imagens à uma população mais pobre, pois já frequentei muitos shows e festas de pessoas de maior renda (classe A, mesmo) e vi como deixaram o espaço após o final dos eventos...

A lura é árdua, inglória, mas jamais devemos abandoná-la, pois conquistar uma vitória neste campo, já significaria um grande passo para a conquista da sonhada cidadania dos habitantes de qualquer centro urbano!!!! 






sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Receita de granola

A granola é um mix de cereais criado no século XIX e que teve maior popularidade a partir da década de 1960, onde as suas qualidades nutricionais foram exaltadas pela comunidade hippie, da época... Nas décadas seguintes, se popularizou ainda mais, como um saboroso "rango", adotado por muitos esportistas e "naturebas"... Atualmente, é consumida de diversas formas, sendo quase uma unanimidade acompanhando uma tigela de açaí com banana.

Segundo especialistas, médicos e nutricionistas, é rica em fibras, vitaminas, proteínas e ferro... E praticamente não há contra indicação (alérgicos aos componentes, não podem consumi-la, é óbvio), apesar de ser extremamente calórica (pega leve, rsrs)...

Cada um tem a sua receita, a sua mistura, por isso vou dar uma sugestão de uma trazida aqui para casa (a Eliane ama), pelo Luiz,  

É importante lembrar que é só uma sugestão de ingredientes e tempo de forno, pois isso vai depender do gosto individual...


É legal pré-aquecer o forno, por uns dez minutos... Em uma assadeira grande e com borda alta, misture cinco xícaras de aveia laminada, uma xícara de castanha do Pará picada, uma xícara de amêndoas cruas picadas, sem sal (ou qualquer outra castanha de sua preferência), uma xícara de coco ralado (daqueles desidratados, de saquinho mesmo), meia xícara de gergelim, duas xícaras de açúcar mascavo e uma xícara de semente de girassol sem casca e sem sal... Depois de bem misturados (há quem goste de acrescentar uma pitada de sal), coloque duas xícaras de leite de coco e uma colher de sopa de extrato de baunilha, misturando novamente (pode amassar com as mãos para agregar um pouquinho e formar aqueles "gruminhos")... Deixe descansar por uns quinze minutos e depois coloque no forno alto (180ºC a 200ºC) por vinte minutos... Baixe a temperatura dele para 90ºC e deixe assar por mais 1h30 a 2h, mexendo sempre de 10 em 10 minutos (para não queimar)... A granola não ficará totalmente crocante no forno, pois isso acontecerá depois que esfriar (se fizer uns testes, tirando um pouquinho  e deixando esfriar antes de provar, "dá para ver o ponto" também)...

Depois de fria, acrescentamos uva passa (amooooo) e um pouco de cereal de milho (tipo "corn flakes"). 

Fica maravilhosa!!!!







sábado, 9 de janeiro de 2021

Covid-19 em Guarulhos


 Hoje, sábado, véspera do importante vestibular da Fuvest, em que muitos participantes à cobiçada e concorrida vaga na USP tiveram a sua preparação prejudicada no ano passado por conta da pandemia, ainda traz uma preocupação muito grande com o crescimento dos casos da Covid-19 no nosso país...

É quase certo que as atividades escolares presenciais voltem nas próxima semanas, em parte, em muitas escolas (inclusive, na que eu trabalho), por isso é premente aumentarmos os cuidados para evitar o retorno da contaminação nos níveis mais devastadores da doença, ocorridos no meio de 2020...

Observando o boletim emitido pela prefeitura de Guarulhos, ontem, dia 08 de janeiro, pode-se comprovar este crescimento preocupante de casos, na nossa cidade (https://www.guarulhos.sp.gov.br/sites/default/files/2021-01/COVID%20Boletim%20semanal%20n.36%2008.01%20-%202020.pdf)...

Notei que, dos 36.951 casos confirmados no município, 60,12% concentra-se na população entre 30 e 59 anos, mas os 1.720 óbitos tem ampla maioria (72,44%) entre os maiores de 60 anos, ou seja, muitos estão levando a contaminação para dentro das suas casas, que está causando a morte de pais e avós, a parcela mais frágil (ao lado das crianças) dos indivíduos...

Estes números deveriam nos levar a refletir sobre o nosso papel, pessoal, individual mesmo, neste processo, já que fica fácil culpar apenas o descaso dos mais jovens em festas e aglomerações clandestinas... O que vi, nos dias que saí para ir ao supermercado ou ao banco (infelizmente, ainda não consigo fazer tudo pela internet), foi uma quantidade surpreendente de pessoas sem máscaras... Então, muito mais suscetíveis à contaminação e transmissão... Não entendo esta resistência!!!! É certo que a proteção facial não impede a circulação do vírus, mas diminui muito as gotículas, que suspensas no ar, aumentam os casos de contaminação...

Parece hercúlea a tarefa de convencimento delas que, inclusive, associam o seu uso à questões ideológicas de esquerda... Sim, por mais absurdo que pareça, até mesmo isso é politizado... Se, pelo menos, o representante político dessa vertente radical transmitisse a importância da prevenção, amenizaria um pouco esta insensatez (ou estupidez).

Esta "segunda onda" (ou a continuidade da primeira, como queiram) será devastadora para vidas e para a economia (alguns só se sensibilizam com questões financeiras)... Até mesmo com o início da vacinação, antes da imunização de pelo menos 70% da população, a melhor atitude ainda é a prevenção radical... Usar máscaras, manter o distanciamento seguro, higienizar muito o corpo e as superfícies de contato, sair de casa somente quando for necessário, nos informarmos apenas em sites confiáveis (como os oficiais, de órgãos públicos e de universidades), não transmitir pânico pelas redes sociais e não divulgar notícias falsas sobre a pandemia... Muitos especialistas defendem, inclusive, o uso de máscaras, por dois anos após o início da imunização...

Quero muito voltar com os grupos de estudo do meio e ecoturismo da Via Franca Turismo (o meu último trabalho com esta atividade foi em março de 2020), mas em primeiro lugar, quero ter segurança para curtir a minha atividade na sua plenitude... E, para isso acontecer, e ao mesmo pouparmos muito sofrimento e muitas vidas, temos que fazer a nossa parte...

Pensa aí...

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Sucos funcionais


 Durante a quarentena imposta pela pandemia de Covid-19, tivemos muito tempo para preparar os nossos alimentos em casa, com a calma e precisão que o cotidiano anterior não permitia (inclusive, as refeições eram feitas, na sua maioria, fora de casa)... Nessa onda, entraram ainda mais na nossa rotina, os sucos e vitaminas, que passaram a enriquecer a nossa dieta... Desde criança sou acostumado com eles, pois fui criado em casa com quintal grande, com abundância de laranjeiras, limoeiros, goiabeiras, mangueiras e o trio que eu mais curtia, figo, romã e maracujá doce, tratados com esmero pela minha avó Zilda (ela tinha um grande orgulho deles, pois não eram muito comuns nas outras datas, dos arredores)... É sabido também que o meu saudoso pai, El Cid, era um alquimista na arte de misturar frutas (sempre produzidas na sua chácara, em Cristais Paulista) e produzir as polpas que serviam de base para os seus deliciosos sucos e licores... 

Então, a minha história está diretamente ligada a eles... Mas, como já escrevi, neste período forçosamente sabático, os "funcionais" ou "detox", como também são conhecidos, entraram em cheio nas nossas vidas... Além de refrescantes e extremamente saborosos, eles ainda trazem benefícios diretos ao nosso organismo.

Como não sou médico, nem nutricionista, tampouco pesquisador da área, não entrarei na questão nutritiva deles... Mas, sou um apreciador de sucos, coloridos e de sabor marcante, então vou me atrever a colocar aqui, as receitas daqueles que mais me agradam (na realidade, todos são maravilhosos, mas vou elencar alguns, rsrs)... Inclusive, podem representar uma forma de acrescentar estes alimentos para a garotada que não curte muito consumi-los in natura, durante as refeições (se caprichar nas combinações, couve, cenoura, alface e beterraba, são facilmente apreciados por eles, juntos com frutas de sabor marcante)

Não estou em regime de emagrecimento, nem tenho restrições alimentares, por isso uso e abuso de combinações aleatórias... Inclusive, também não os consumo em horários específicos e rigorosos... Ao acordar, muitas vezes, bato no liquidificador uma "vitamina de frutas", a base de água e aveia, variando e combinando entre três ou quatro frutas, como banana (amoooooo), mamão, maçã, manga, uva, pêssego, morango, ameixa, goiaba, etc e tal... Depende muito da sazonalidade delas e da sua qualidade nos lugares que eu compro... Os outros sucos, geralmente tomo antes do almoço (perdi o costume de ingerir líquidos junto às refeições) ou à tarde... São estes que vou sugerir, aqui... É importante destacar que faço tudo no "olhômetro", sem me ater a quantidades específicas, pois o tamanho das frutas variam muito (mas, é legal tentar priorizar orgânicos, nas compras, pois o sabor e a conservação interferem no resultado)...

Suco 1: bater no liquidificador (como todos os outros, a seguir) duas laranjas (inteiras, descascadas), o suco de um limão (pode colocá-lo descascado, inteiro também), um pedaço de beterraba, gengibre, uma cenoura e água de coco...


Suco 2: metade de um mamão papaia médio, cenoura, uma laranja (só retire a casca e a semente) e gengibre...


Suco 3: o clássico, com pedaços de abacaxi, gengibre (coloco em todos, rsrs), maçã, água de coco e hortelã.


Suco 4: este é com água, alface (umas seis folhas), gengibre, beterraba, abacaxi e suco de um limão.


Suco 5: Duas laranjas inteiras (sem casca, é claro), um limão também descascado, seis folhas de alface, gengibre (necessário, sempre, rsrs) e água...



Suco 6: pedaços de abacaxi, couve (pelo menos duas folhas), gengibre e água de coco.


Suco 7: duas laranjas, suco de um limão, uma cenoura grande, gengibre e água.


Suco 8: duas folhas de couve, gengibre (olha o gengibre aí, geeeeente), metade de uma beterraba, suco de dois limões, alguns pedaços de abacaxi e água...


(ops, esta é uma "viena larger", da Cervejaria Rusticana, mas só quem tem a receita é o amigo Tuca Paiva, lá de Nazaré Paulista, que faço questão que vocês visitem, algum dia, com a Via Franca Turismo)



domingo, 9 de agosto de 2020

Quarentena - 40º dia


 Dez de maio... Domingo...

Último dia que passei ao lado do meu pai... Na realidade, últimas horas, pois eu viajei logo de manhã para encontrar a Eliane, minha esposa, que estaria me esperando em Pirassununga. A Érica, minha irmãzinha caçula, e o Luizmar, meu cunhado, marido da minha outra irmã que também se chama Eliane, me levariam até ela. Saímos de casa, por volta das nove horas da manhã. Tomei o café com os meus pais (o meu último com ele), conversamos um pouco, cortei mamão para ele e fiz vitamina de frutas, como em todas as manhãs neste período que passei lá em Franca. No dia seguinte, El Cid iniciaria o tratamento de radioterapia para combater a metástase na coluna, de um câncer que nunca soubemos qual foi a sua origem. Ele estava bem ansioso, pois tinha esperança de voltar a andar sem o auxílio do andador, poder dirigir novamente, trabalhar na chácara, ir fazer as tradicionais compras no varejão e na feira, levar o Gabriel, seu netinho, para jogar bola na escolinha, buscar a Isa, outra netinha, na escola, passear com a Dudinha, a caçulinha, na pracinha, entre outras coisas.

Este domingo foi especial, pois o dia dez de maio é o aniversário da minha mãe, o dia que fui batizado e também o meu casamento no civil, com a Eliane. E, em 2020, era o domingo do "Dia das Mães"... Inclusive, quando comecei a escrever estas quarenta postagens, que chamei de "Quarentena", programei para terminá-la hoje, dia 09 de agosto, também um domingo, "Dia dos pais".

Pude passar quarenta dias ao lado do meu pai, desde o dia 01 de abril, relembrando muitas histórias, compartilhando carinho, amor, cuidando dele e aprendendo ainda mais, com os seus ensinamentos e lucidez... Usufrui do seu bom humor, da sua esperança, da dramaticidade de algumas situações e da esperança, que me contaminou até o dia que recebi a notícia, no dia vinte e um de maio, do seu falecimento.

Fui privilegiado... Recebi um presente de Deus, por conseguir me despedir dele, lentamente, com toda a intensidade e saindo de Franca com a certeza que o veria de novo.

Na imagem que postei (desculpe-me, mamãe, por colocá-la de pijama na postagem, rsrs), eu já estava dentro do carro, me despedindo deles... Já tinha ganhado um beijo, um abraço demorado e um pedido carinhoso para me cuidar... Nos despedimos com o tradicional "eu te amo", quando lhe pedi a benção... É a última foto dele... 

Foi a última vez que o vi... Foi a nossa despedida...

Te amo, pai. Te amo...



 


sábado, 8 de agosto de 2020

Quarentena - 39º dia

 

Nove de maio... Sábado...

Festa de aniversário da Dudinha, na casa da Érica. Por conta do isolamento imposto pela Covid-19, os presentes eram apenas nós, da família próxima: El Cid, mamãe, André, Érica, Gabriel, Dudinha (que já havia completado dois aninhos no dia 19 de março), Eliane (minha irmã), Luizmar, Isabela e eu...

Foi nossa última festa juntos, na casa da Érica, depois dela sempre terá uma ausência sorridente nas nossas fotos... Ele gostava de celebrar... Fez questão de tirar o andador, para não aparecer com ele na imagem. Eu fiquei temeroso, já que El Cid perdeu praticamente toda as suas forças nas pernas, mas confesso agora, que fiquei feliz por ele ter feito isso... Guardamos a imagem invencível, indestrutível que ele sempre passou para todos nós.

Lembramos de uma história antiga, que nos garantiu boas risadas... Quem já morou ou dirigiu no interior do nosso estado, sabe que a condução do veículo é bem diferente daquela da capital.

Como em São Paulo o trânsito flui mais agressivo, com muito mais carros do que em qualquer outra cidade do Brasil, acaba gerando um acordo tácito entre a maioria dos motoristas.

Por incrível que pareça o uso da seta é mais comum aqui, na capital do estado, do que em outros lugares e muitos motoristas cedem um pouco do espaço que poderia ser ocupado pelo seu carro para que o condutor consiga sair da sua vaga ou de uma parada obrigatória numa rua mais movimentada.

No interior não tem isso, não!!

Muitos nem se lembram de ligar a seta, odeiam diminuir a velocidade para outros passarem (inclusive para pedestres) e acham que possuir um carro, os diferencia daqueles que andam pelas calçadas.

Por isso, quando ando a pé ou de bicicleta pela minha cidade, redobro a atenção, ao atravessar ruas e avenidas. Aqui, na metrópole, também me cuido, mas sei que muitos vão me permitir atravessar a rua entre o seu carro e o da frente, sem acelerar de maneira ruidosa (excluo, aqui, os motociclistas).

Tanto que, ao vir com o meu pai para cá, fui atravessar uma rua movimentada de Guarulhos entre dois carros (o de trás diminuiu para que pudéssemos passar), mas El Cid titubeou e não quis arriscar-se, negando-se a me acompanhar na "aventura"...

Brinquei com ele, depois de esperar algum tempo para chegar na outra calçada:

- "Poxa, pai, pode ficar tranquilo, porque os motoristas daqui diminuem um pouco para que os pedestres possam atravessar. Da próxima vez, pode confiar!!!"

E ele, de pronto, afiadíssimo, como sempre:

- "Eu não! E se o motorista justo daquele carro for de Franca??"

Pois é, depois desta constatação, eu também nunca mais confiei...




sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Quarentena - 38º dia

Oito de maio... Sexta-feira...

Véspera da festinha de dois anos da netinha dele, a Dudinha... A comemoração seria na casa da minha irmãzinha caçula, a Érica... Mesmo quase dois meses depois do aniversário mesmo dela, a comemoração seria feita, apenas para "os de casa"... Como nos outros dias, El Cid, estava reclamando um pouco da demora em poder voltar a andar, naturalmente, sem apoio ou ajuda de andador.

Ele tinha uma característica que era bem peculiar... Tinha uma facilidade invejável de decorar nomes... Se orgulhava de saber todas as capitais dos países do mundo... Era divertidíssimo conversar sobre isso com ele, pois além de me citar o nome da cidade, também contava alguns detalhes sobre a maioria delas 9as preferidas eram aquelas que tinham alguma relação com a Antiguidade) e ainda existiam... 

O amor dele por mapas era único também. Tinha um atlas e um guia que sempre consultava quando ouvia sobre os lugares... mesmo quando conhecia bem, ia dar uma conferida lá...Antes de qualquer viagem nossa, ele pegava o Guia Quatro Rodas do começo dos anos 2000 para verificar as cidades que passaria no caminho para contar histórias delas no carro (nas últimas décadas virou passageiro, então tinha muito tempo para ficar "observando as paisagens" no deslocamento, característica que herdei dele, com certeza)... Desde criança, nos dinos da Viação Cometa, El Cid vinha narrando as localidades que estariam no caminho até  terminal rodoviário da Praça Júlio Prestes (aquele com acrílicos coloridos, bem psicodélico, que não existe mais)... Anuncia com boa antecedência, sempre com alguma história pessoal naquelas que ele já tinha pisado, Batatais, Brodowski, Ribeirão Preto (a sua preferida, que nutria "falsa rivalidade", rsrs), Cravinhos, Porto Ferreira, Pirassununga, Leme, Araras (que a Érica quando criança perguntava se era "Araras Quaras"), Limeira (a parada mais antiga para banheiro, onde ele se levantava antes mesmo da chegada, para deixar bem claro que conhecia bem o trajeto), Americana, Sumaré, campinas, Jundiaí e São Paulo... Quando eu viajava sozinho, mesmo fora do Brasil, ele usava oseus livros e material de consulta para conversar comigo sobre onde eu iria... Era detalhista, pois gostava de saber sobre pequenos trechos, específicos, que eu poderia não ter atenção... Era extasiante, quando me apontava algum detalhe que tinha me fugido, no meu planejamento e íamos pesquisar juntos, no meu celular ("filho, dá uma olhada sobre isso...")...

Por falar em viagens, era o único, notem a palavra que usei, o único, que me pedia para ver as fotos das minhas viagens... Como adorava ver fotografias... Eu fazia uma segunda viagem quando as mostrava para ele... Inclusive, em muitos lugares os cliques eram feitos para uma posterior conversa com ele... Lembro-me quando fui para o  meio oeste americano, em julho de 2018, e fotografei Monument Valley de diversos ângulos... Divertimo-nos muito, depois, tentando lembrar de filmes de faroeste rodados naquelas paisagens... Eu tirava muitas fotos para ele, pois tinha a certeza que o meu pai, viajava pelo meu olhar. Eu sabia que ele jamais conseguiria conhecer as paisagens das novelas de cavalaria, o solo onde Cristo percorreu, os desertos de beduínos e tuaregues, os portos de onde saíam barcos vikings, as montanhas disputadas por indígenas e colonos americanos, as cidades das "mil e uma noites", a Itália de Puccini... Então, eu viajava também por ele.

Os velhos álbuns de fotografia, cuidados com esmero e guardados até hoje dentro do móvel da sala, são testemunhas da sua paixão em registrar momentos importantes da nossa família... Temos uma linha de tempo rica, organizada por ele... Uma pessoa que gostava de ficar em casa, mas também amava lugares distantes. Com isso, assistia muita TV e amava programas de viagens e documentários, onde um dos seus preferidos era o "Brasil Visto de Cima", religiosamente assistido todos os dias que passava... Quando eu estava em Franca, víamos juntos... Ele adorava "trocar uma ideia" sobre os lugares que eu já havia passado, visitado e que era mostrado no programa ("você viu isso lá, filho?", "não é aquilo que apareceu na foto que você me mostrou"?)... Confesso que até hoje, não consigo assisti-lo mais... Dá um aperto no peito... Tenho que superar isso.

O meu amor pela história e geografia, vem bastante da influência do meu pai... Os velhos álbuns de fotografia, cuidados com esmero e guardados até hoje dentro do móvel da sala, são testemunho disso.


quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Quarentena - 37º dia

Sete de maio... Quinta-feira...
Noite tranquila, El Cid acordou de muito bom humor... Brincou, como todos os dias sobre a quantidade de remédios que tomava... Comeu bastante... Demos muitas risadas, nós três, na mesa de um desjejum que demorou bastante...
Uma parte da conversa foi sobre loterias e jogos de azar...
Sempre tivemos na família pessoas que gostavam de apostar em alguma forma de jogo... Felizmente, nada compulsivo, como aquelas velhinhas que frequentam o submundo de bingos clandestinos ou os fanáticos pelo colorido iluminado dos caça níqueis que estão espalhados por botecos da periferia da grande São Paulo. Seu Elpídio, meu avô paterno, amava os carteados e, até o seu passamento, sempre fazia os seus joguinhos na loteria esportiva e na Loto... Chegava a suar frio, quando acertava algum número na sua conferência (não me lembro dele ter acertado mais do que dois números em nenhum jogo, rsrs). Esta sua mania (ou seria vício?) passou para o seu filho do meio, no caso o meu pai...
Sempre que pode, El Cid, fazia os seus joguinhos (preferia a megassena), usando a mesma combinação de números que retirava das datas de nascimento dele e da minha mãe: 10, 05, 48, 21, 09 e 36.
Ele fazia sempre a aposta mais simples e dizia que gostaria de acertar junto com outros apostadores (não queria ser o "único ganhador") para que não chamasse muito a atenção... Gostava do "anonimato, discrição para estas coisas", rsrs... Claro, que não jogava sempre, mas conferia impreterivelmente os resultados, apostando ou não... Inclusive, anos atrás, quase chorou de raiva, pois teria acertado uma quina, se tivesse se arriscado na lotérica.
Todo domingo, até um bom par de décadas trás, ele saía com o cachorrinho da família, o Zuzu, até a pracinha da Jussara para comprar o Comércio da Franca e conferir o resultado do sorteio do dia anterior (como já escrevi, fazia isso mesmo quando não jogava)... Era uma rotina semanal bem interessante.
Num desses domingos em que eu estava em Franca, acordei muito cedo e entrei no computador para ler algumas mensagens.
Ao abrir a página do site, vi que havia um único acertador da megassena acumulada, justamente da cidade de São Paulo... Anotei os números que foram sorteados, em um pedaço de papel, e esperei o meu pai chegar com o jornal. Ao entrar na cozinha, fui até ele e mostrei o papel que eu havia copiado da tela do computador, dizendo que eu os havia jogado durante a semana, mas tinha deixado o bilhete no bolso do meu jaleco de professor, na escola.
Ele achou interessante a minha iniciativa, já que eu nunca aposto em nada que envolva dinheiro ou outros bens... Brincou até que a minha sorte de principiante poderia trazer algum acerto...
quando começou a conferir os números, acreditando que eu havia jogado, de fato, arregalou os olhos e começou a tremer (o jornal balançava, nas suas mãos, como se estivesse numa manhã de muito vento, igual às "frescas" que sempre sopram na nossa cidade)...
Olhou para mim e com voz embargada, me perguntou se era verdade mesmo... O riso aberto de galhofa foi substituído por outro de tensão!!!
Óbvio que, temendo o pior, eu disse que era uma brincadeira, pois eu já sabia a sequência sorteada...
Até hoje, eu não sei se a expressão dele após aquele momento foi de decepção ou de alívio...
Mas, a certeza que ficou foi que perdi totalmente a credibilidade em relação a algum sucesso que eu pudesse ter em sorteios e rifas... Tudo bem que nunca mais apostei, nem em título do tricolor do Morumbi.




quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Quarentena - 36º dia

Seis de maio... Quarta-feira...
Novamente, acordou com um pouco de pessimismo em não conseguir o movimento pleno das pernas,,, Para quem sempre foi irrequieto, gostava de caminhar, isso era um tormento.
Não sei exatamente o porquê, mas nesse dia lembramos do "dia de Reis", comemorado em 06 de janeiro... Lembranças que me remeteram ao nosso cotidiano simples, de gente caipira, que sempre valorizou as tradições culturais...
Nem tenho certeza se meu pai curtia tanto assim os reisados (as cavalhadas, tenho certeza que amava), mas El Cid sempre me levava para acompanhá-los.
Um adendo histórico: apesar de ser uma tradição portuguesa, inspirada na tradição católica de visita dos três Reis Magos ao menino Jesus, as Folias de Reis chegaram ao Brasil no século XVIII e se popularizaram entre os habitantes de muitos estados (principalmente Minas Gerais, Goiás e São Paulo)... É, inclusive, patrimônio imaterial do estado de Minas Gerais.

Desde criança, a minha ligação com as folias sempre foi muito grande... Para mim, elas representam uma das manifestações populares mais autênticas e expressivas que existem... O meu avô materno, Antônio, as apreciava e ouviu todas as suas variações até próximo do seu passamento... O meu pai até bem pouco tempo atrás, ficava antenado nos dias de apresentações delas, lá na nossa Franca, e me ligava: "filho, sábado tem apresentação das folias, lá na exposição... Você vem?" E, eu ia... E ficávamos horas no meio da festa (os meus olhos marejaram, agora).

Faço um aparte, para acrescentar nestas memórias, outras personagens também muito significativas para mim (e que também eram para El Cid)...

O que me marcou mesmo sobre os reisados, foi na infância, no sítio da tia Geralda, lá em Ituverava, próximo ao povoado de Capivari da Mata, quando eu ia passar férias com a minha vó Zilda, a minha madrinha... Como sempre estávamos lá entre o Natal e o dia de Reis, era comum presenciar as apresentações das folias, no sítio dela...

Lugar bucólico, sem energia elétrica, iluminado por lamparinas à querosene, dormia-se muito cedo ("com as galinhas", segundo uma expressão muito usada na época)...Mas, nas madrugadas sempre vinham os foliões com as suas bandeiras, roupas coloridas, violas, sanfonas e pandeiros enfeitados com fitas... Lembro-me de acordar com uma música bem distante e olhar pela janela, na amplidão do pasto que rodeava a antiga casa, enxergando as luzinhas cintilantes dos candeeiros deles... O coração já acelerava... A música crescia na medida que se aproximavam e havia toda uma reverência para adentrar a casa... Sempre era oferecido cachaça para os foliões, dinheiro na forma de esmola para a igreja e um delicioso bolinho de polvilho, servido para todos, com café (não era o biscoito tradicional que conhecemos aqui em São Paulo, mas um bolinho sovado com erva doce e frito na hora, crocante por fora e muito macia no seu interior, uma das especialidades da minha família, para a "merenda").

Os foliões cantavam, dançavam e bebiam muita cachaça... E nós, da casa, ficávamos ali atônitos, extasiados, hipnotizados pelo colorido e pelas vozes agudas e bem afinadas... A reverência de oferecer a bandeira para a dona da casa, que a beijava e era consagrada por ela, tinha uma beleza ímpar.

Lembro-me que os palhaços sempre me assustavam e para amenizar os meus primos, bem mais velhos do que eu, Francisco, Maria das Graças e Antônio José, me diziam: "deixa disso, moleque, é o Acácio da tia Jerominha que tá vestido assim para zombar de ti..." Era nada, rsrs, o Acácio era bem mais alto e gordo que aquele marungo!!!!

Os foliões eram todos lavradores, vizinhos da tia Geralda (muitos até nossos parentes), que haviam trabalhado o dia todo na roça, na enxada, debaixo de sol e chuva, mas à noite se transformavam em seres divinos, que trocavam o seu cansaço pela alegria de louvar e encantar a todos nós... Era sublime...

Tem cenas que sei que nunca mais vou viver, até mesmo porque faltarão os seu protagonistas... Esta é uma delas... Felizmente, ainda está viva e bem forte na minha memória... Pulsando, como a figura de El Cid.