Via Franca

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quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Quarentena - 37º dia

Sete de maio... Quinta-feira...
Noite tranquila, El Cid acordou de muito bom humor... Brincou, como todos os dias sobre a quantidade de remédios que tomava... Comeu bastante... Demos muitas risadas, nós três, na mesa de um desjejum que demorou bastante...
Uma parte da conversa foi sobre loterias e jogos de azar...
Sempre tivemos na família pessoas que gostavam de apostar em alguma forma de jogo... Felizmente, nada compulsivo, como aquelas velhinhas que frequentam o submundo de bingos clandestinos ou os fanáticos pelo colorido iluminado dos caça níqueis que estão espalhados por botecos da periferia da grande São Paulo. Seu Elpídio, meu avô paterno, amava os carteados e, até o seu passamento, sempre fazia os seus joguinhos na loteria esportiva e na Loto... Chegava a suar frio, quando acertava algum número na sua conferência (não me lembro dele ter acertado mais do que dois números em nenhum jogo, rsrs). Esta sua mania (ou seria vício?) passou para o seu filho do meio, no caso o meu pai...
Sempre que pode, El Cid, fazia os seus joguinhos (preferia a megassena), usando a mesma combinação de números que retirava das datas de nascimento dele e da minha mãe: 10, 05, 48, 21, 09 e 36.
Ele fazia sempre a aposta mais simples e dizia que gostaria de acertar junto com outros apostadores (não queria ser o "único ganhador") para que não chamasse muito a atenção... Gostava do "anonimato, discrição para estas coisas", rsrs... Claro, que não jogava sempre, mas conferia impreterivelmente os resultados, apostando ou não... Inclusive, anos atrás, quase chorou de raiva, pois teria acertado uma quina, se tivesse se arriscado na lotérica.
Todo domingo, até um bom par de décadas trás, ele saía com o cachorrinho da família, o Zuzu, até a pracinha da Jussara para comprar o Comércio da Franca e conferir o resultado do sorteio do dia anterior (como já escrevi, fazia isso mesmo quando não jogava)... Era uma rotina semanal bem interessante.
Num desses domingos em que eu estava em Franca, acordei muito cedo e entrei no computador para ler algumas mensagens.
Ao abrir a página do site, vi que havia um único acertador da megassena acumulada, justamente da cidade de São Paulo... Anotei os números que foram sorteados, em um pedaço de papel, e esperei o meu pai chegar com o jornal. Ao entrar na cozinha, fui até ele e mostrei o papel que eu havia copiado da tela do computador, dizendo que eu os havia jogado durante a semana, mas tinha deixado o bilhete no bolso do meu jaleco de professor, na escola.
Ele achou interessante a minha iniciativa, já que eu nunca aposto em nada que envolva dinheiro ou outros bens... Brincou até que a minha sorte de principiante poderia trazer algum acerto...
quando começou a conferir os números, acreditando que eu havia jogado, de fato, arregalou os olhos e começou a tremer (o jornal balançava, nas suas mãos, como se estivesse numa manhã de muito vento, igual às "frescas" que sempre sopram na nossa cidade)...
Olhou para mim e com voz embargada, me perguntou se era verdade mesmo... O riso aberto de galhofa foi substituído por outro de tensão!!!
Óbvio que, temendo o pior, eu disse que era uma brincadeira, pois eu já sabia a sequência sorteada...
Até hoje, eu não sei se a expressão dele após aquele momento foi de decepção ou de alívio...
Mas, a certeza que ficou foi que perdi totalmente a credibilidade em relação a algum sucesso que eu pudesse ter em sorteios e rifas... Tudo bem que nunca mais apostei, nem em título do tricolor do Morumbi.




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