Via Franca

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sexta-feira, 31 de julho de 2020

Quarentena - 31º dia


Primeiro de maio... Sexta-feira...
Mais exames, mais esperanças e a mesma rotina, a qual já estava bem acostumado. Era uma alegria acordar e ir até o quarto de El Cid para ajudá-lo a levantar-se... Às vezes, eu ouvia um "filho dormi a noite toda" ou um "filho, não dormi quase nada"... A partir da primeira fase dele, eu já sabia o que fazer para deixá-lo mais motivado para as ações do dia.
Muitas vezes, após a saída da cama e o longo tempo que despendia no banheiro (boa parte do tempo gastava penteando a lisa e rala cabeleira, rsrs) era o suficiente para eu cortar a fatia de mamão formosa que ele comia toda manhã, passar o café e iniciar a preparação da vitamina de frutas com aveia que complementava o café da manhã de todos nós.
Era gostoso ouvir na boca dele o "Vaninho", que me apelida (um cabra velho, com quase dois metros de altura e mais de cento e dez quilos, sendo tratado no diminutivo é muito estranho)... Inclusive, até hoje, quando escuto esta forma carinhosa de referência, sei que é parente ou amigo lá de Franca... todos os outros, me tratam pelo meu nome mesmo: Evanir.
Inclusive, esta foi sempre uma questão mal resolvida com o meu pai... A escolha do meu nome. Segundo a minha mãe, deveria ter sido Eduardo, mas pelo meu velho ter um amigo de infância que se chamava Evanir e todos o tratavam carinhosamente por "Vaninho" (que o meu pai achava "o máximo"), fui batizado como tal... As minhas irmãs tiveram "mais sorte" e receberam nomes comuns, Eliane e Érica (tudo bem que a nossa caçulinha recebeu um "K" no seu nome original que lhe rendeu alguns problemas no período da alfabetização escolar que logo foi trocado pelo "C" do português sem estrangeirismos)...
Em boa parte da minha vida, ou melhor, confesso, até hoje, fico muito incomodado quando alguém me anuncia como mulher... Entendo que a terminação "ir" refere-se mais ao feminino, mas em muitos casos poderia ter sido evitada. Imaginem, uma sala de espera de exames lotada, chega a enfermeira com uma ficha na mão e chama a "senhora" Evanir Penna... Levanta um caboclo barbudo de mais de um metro e noventa e barriga na mesma proporção... Todos entreolham-se e muitas, não seguram o sorrisinho maroto. O meu constrangimento só não é maior que o da moça que me chamou (já ficou pior, quando a pessoa me vê e pergunta "a senhora Evanir não está contigo, foi a algum lugar?").
Na adolescência eu era sacaneado diariamente pelos meus amigos, por conta de uma butique que tinha o nome de "Lojinha da Evanir" (com uma florzinha no lugar do pingo da letra "i")... Os caras até mudavam o caminho, só para passarem em frente a ela e me "homenagearem". Até hoje, quando faço um trajeto que passa pelo antigo local, dou risada (já começo a lembrar ainda no muro do EETC, antes de virar a rua).
Eu sempre brinquei com ele que ter me colocado este nome foi uma grande troça, pois ter sido registrado como Edercides também lá não deveria ter sido tão fácil, rsrs... Sempre ouvíamso as variações sobre o nome dele em lugares que o chamavam: Ederleide, Ederclides, Delcides, Ederclives,etc e tal... Nos divertíamos com isso. Fico imaginado como sairia escrito no copo de café da Starbucks... O meu avô Elpídio, pai do meu pai, era criativo para nomes, pois o meu tio, irmão de El Cid, chamava-se Erundward... Viu, simples, não!?
Então, tá justificado. Tinha que ser Evanir mesmo e pronto. Com um "p" no Batista (Baptista) e dois enes no Pena (Penna)... Massa demais.
E assim modelou-se um caráter e uma identidade.


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