Via Franca

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segunda-feira, 20 de julho de 2020

Quarentena - 20º dia

Vinte de abril... Segunda-feira...
Mais uma vez, o meu pai acordou reclamando um pouco das pernas, que estavam mais fracas que no dia anterior...
Ele sempre trabalhou, desde criança, por isso este período de resguardo por conta da doença que lhe consumia os movimentos era muito difícil... Isso me fazia o entender, bem.
O seu primeiro emprego, tirando aqueles de garoto, entregando jornais, engraxando sapato, foi numa fábrica de doces em Ribeirão Preto, quando a minha avó se mudou com ele para lá, depois de uma briga com o meu avô (eles ficaram poucos meses distantes)... Contava com graça que o que mais gostava era a possibilidade de se fartar de bolachas e afins na "hora da merenda", lá na indústria...
Depois trabalhou com grandes atacadistas no bairro da estação (a loja ficava bem ao lado da estação de trem, mesmo), os irmãos Abraão Jorge... Amou este trabalho. Contava com orgulho o quanto aprendeu e se dedicou lá. Eles tinham contato com vários fornecedores em, praticamente, todos os continentes, por isso recebiam correspondência postal de vários lugares do mundo... O meu pai ficava com os selos e, metódico como sempre foi, organizou uma coleção incrível de selos de vários países do mundo, carimbados pelas respectivas empresas de correios... El Cid era um filatelista amador, auto didata e dedicado (ficou para mim, a coleção). Pena que fixou o selo com fita transparente (da Durex) e, com o tempo, a cola vazou em todos eles, deixando-os amarelados no centro, perdendo o seu valor comercial, rsrs, mas não tem problema, pois não há intenção alguma em me desfazer dela.
Deste período contava como ajudava os "chapas" a descarregarem os caminhões (principalmente aqueles de sacas de arroz) e também das viagens que fazia com eles para buscar mercadorias em outras cidades. O grande barato é que a função do meu pai era administrativa, trabalhava dentro do escritório, mas sempre foi solidário e solícito, por isso desde sempre, era muito querido por todos que o conheceram. Uma história que eu achava bem interessante foi a de uma fiscalização surpresa que a empresa teve, quando dois fiscais extremamente rigorosos acharam o livro "informal" do fluxo de caixa da empresa e o meu pai conseguiu arrancá-lo das mãos deles e saiu correndo, pulando o balcão e se escondendo em um terreno afastado, para ser destruído, posteriormente (isso ele não concordava, não, mas sempre "vestiu a camisa" dos lugares que trabalhou).
Saiu de lá, no começo da década de 70 e foi trabalhar na indústria de solados e colas Amazonas... Não conhecia muito sobre a função que foi designado, mas recebeu o cargo de chefia pela sua inteligência e capacidade de adaptação... Infelizmente, tinha que aprender sobre as diferenças de solados na prática e foi sacaneado por algumas pessoas, que pleiteavam a sua posição... A gota d'água foi uma ameaça de greve que a equipe fez, requerendo melhores salários e ele foi o negociador deles com o patrão... Quando foi pedida a cabeça dos líderes, ele se demitiu. Não podia com injustiças...
Acho que foi a melhor decisão tomada, pois não ficou quase nada em casa... Em pouco tempo já estava empregado na Usina de Laticínios Jussara, o local que trabalhou por mais de trinta anos, tão relevante que não consigo imaginá-lo em outro emprego, a não ser lá... Era conhecido por Penna... O Penna da Jussara.

Terminar com histórias da Jussara, como a do caminhoneiro que sofreu acidente e só mancava quando entrava na firma ou o acidente com ácido que deixou uma cicatriz enorme no braço dele e a sua aposentadoria.

Em construção...


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