Via Franca

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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Pagliacci - com o genial LaMínima no Teatro do Sesi


"Senhoras e senhores! Na peça que estão prestes a assistir, o autor quer capturar as velhas tradições e mostrá-las novamente.Mas ele não pretende contar-lhe o que estão sempre acostumados a dizer. Não! Este autor quer mostrar-lhes um verdadeiro pedaço da vida. A verdade foi sua inspiração. Verão o amor como o povo real ama. Verão os trágicos resultados do ódio e os espasmos do dor real. Escutarão gritos de raiva real e risos cínicos. assim não devem pensar em nossos pobres truques teatrais. Devem pensar em nossas almas, pois somos pessoas de carne e osso - e neste mundo solitário respiramos o mesmo ar que vocês."
Com este discurso para a plateia, Tonio encaminha os rumos da ópera de Ruggero Leoncavallo, "I Pagliacci", escrita no século XIX, meio que contrariando o seu prólogo, que alerta o público que se acontecer uma tragédia no palco é só uma peça e não a vida real (algo comum na tradição da arte da comédia, da época)... Ou seja, podemos ver algo bem real, trágico, diferente do que foi programado!
Com esta introdução, coloco em um pequeno texto, a emoção de ter assistido pela primeira vez, após a morte do genial Domingos Montagner (o eterno palhaço Agenor) uma apresentação da Cia. LaMínima.
Padoca e Agenor
Foi uma adaptação de outra forma de arte que eu amo desde criança, que é a ópera (já disse que sou assinante deste segmento, lá no Municipal), junto com as técnicas circenses (que também amo) que são o cartão de visitas da trupe, nos seus mais de vinte anos de existência.
Foi emocionante rever a versatilidade e comicidade do impagável palhaço Padoca representado pelo Fernando Sampaio, sem o seu companheiro Agenor, na pele do Silvio, amante da colombina na peça original. Me lembrei de quando via os dois companheiros se apresentarem nas praças de São Paulo, representando os impagáveis números circenses tradiconais com malabares, técnicas de paradas de mão, palhaçaria e até mesmo a divertidíssima versão da "Monga - a mulher macaco" (um local que me marcou foi no Bosque da Luz, pois consegui conversar um pouco com eles) ou em pequenos teatros (a última vez foi no Eva Herz, com um "Mistero Buffo" sensacional).
Bom, quanto à peça em si, como já havia escrito lá em cima, é um adaptação da ópera homônima, inclusive mantendo os mesmos personagens, mas com a preocupação de manter a comicidade característica do LaMínima (diferente da história original que é extremamente trágica, dramática) e usando a linguagem corporal tradicional do circo.



Subscrevo aqui sinopse do programa distribuído no teatro. "Um velho bufão começa narrando ao público como Canio, o chefe de uma tradiconal trupe de palhaços, ambicionava-se tronar reconhecido e respeitado como 'artista de bom gosto' e produtor de espetáculos 'de nível'. Para isso, resolve abandonar os tradicionais números circenses de palhaçaria e concebe um espetáculo cujos números cômicos refinados não seriam mais do que a preparação para um requintado melodrama, uma peça que 'expusesse no palco as grandes emoções humanas'. E, além disso, trouxesse o sucesso popular e o reconhecimento da crítica. Para isso, lança mão dos préstimos do velho bufão da companhia que começa a escrever o dramalhão, não sem a interferência autoritária de Canio que quer ditar os rumos do texto encomendado. O bufão,então, resolve escrever uma peça à imagem e semelhança da companhia, expondo sua história, seus dramas, ciúmes, traição conjugal e vilanias. Durante a estreia do espetáculo fica evidente o fracasso da encenação do melodrama junto ao público, bem como a percepção de Canio que ele está representando a sua própria história. O chefe dos palhaços e da companhia se revela o palhaço de seu próprio melodrama. A adaptação foi criada especialmente para comemorar os vintes anos do grupo LaMínima, misturando números com fartas doses de comicidade e elementos líricos e melodramáticos, bem ao gosto da tradição do circo brasileiro."
Ah, a minha esposa está rindo até agora do beijo que recebi da Strompa, em uma interação rápida da personagem com a plateia, rsrs.


Em cartaz no Teatro do Sesi que fica na Av. Paulista, 1313, em frente a estação Trianon-Masp do Metrô, em São Paulo (SP).
A temporada vai de hoje até o dia 25 de março (não haverá apresentações na semana que vem), de quarta a sábado às 20h e aos domingos às 19h.
Entrada gratuita (solicitar ingressos pelo site www.sesisp.org.br/meu-sesi).
Vale a pena dar uma conferida. Para ter um gostinho, vou finalizar com a ária "Vesti la Gubbia", na voz do memorável Pavarotti, original da ópera... Linda demais!!!!!

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