Em todo este tempo nunca me arrependi da escolha pelo magistério e boa parte das minhas iniciativas empreendedoras (com raras exceções) foram ligadas diretamente à educação. Inclusive, no turismo, uma outra atividade que amo, trabalho com o pedagógico.
Tive altos e baixos nesta caminhada, mas nunca desisti... Pelo contrário, sempre acreditei no papel transformador e revolucionário da educação.
Mesmo com mais de duas décadas na mesma instituição de ensino, sou antenado ao que acontece em outras escolas e na academia. Leio bastante sobre pedagogia, ainda hoje revejo textos que li na época de faculdade e converso muito, mas muito mesmo com os meus pares.
Nesta semana uma amiga de infância da minha terra natal, Franca, entrou em contato comigo pois o seu filho mais velho, aluno do segundo ano do Ensino Médio, quer fazer faculdade de Geografia para ser professor... Fiquei exultante com a escolha dele e, principalmente pelo estímulo dado pela sua mãe, algo que não é comum quando um adolescente exterioriza a sua vontade de entrar na nossa carreira. Em alguns casos que ouvi de ex-alunos que manifestaram o desejo de ingressar em um curso de licenciatura, a família chegou a desencorajá-los (dá uma tristeza quando isso acontece)...
Como disse, sempre militei na área, briguei por melhores condições e participei ativamente do processo pedagógico em vários momentos. Vi como muitos tentaram diminuir a importância do nosso papel na sociedade (oras, a educação é a base de tudo), mas como disse anteriormente nunca desisti... Mas, nos últimos meses, tenho acompanhado com preocupação os acontecimentos e tentativas de desmoralização da escola e dos seus professores... O ápice de tudo isso, o que me deixou mais estarrecido foi a última fala da atual ministra da mulher, família e direitos humanos, Damares Alves, que defendeu o ensino familiar (isso mesmo, dado pelos pais da criança) como mais eficiente que aquele ministrado em sala de aula. Vou ser mais direto; ela defende que muitos pais possam ser amparados por lei para não enviarem os seus filhos para a escola, desde que desenvolvam o aprendizado em casa (hoje, TODOS tem por "força de lei" encaminhar a criança para uma instituição formal e legalizada de ensino)... Apesar do absurdo da proposta, ela tem apoiadores e como será encaminhada ao Congresso (podendo ser uma medida provisória) entendo que é defendida pelo governo.
Além de transformarem os educadores em párias, inimigos do país, estão tentando nos excluir da formação individual e coletiva dos futuros cidadãos ("cidadãos", caro presidente do INEP)... Fico imaginando como um médico receberia a notícia que a ida a hospitais e consultas clínicas não serem mais necessárias, bastando cada mãe ou pai, com a sua sensibilidade e conhecimento, diagnosticar o problema do seu filho e receitar o tratamento e os remédios necessários para a sua recuperação...
Fiquei com um nó na garganta, com um azedo no fundo da boca... Mas, confesso, nem com todos estes contratempos cederei. Continuarei firme no meu propósito e na pretensão de ser um diferencial na vida dos meus alunos...
A educação é a base de tudo! Todas as sociedades que evoluíram significativamente nas últimas décadas usaram a educação como revolução e o professor como artífice de mudanças... A cultura, o conhecimento, a prática da coletividade e convivência (literalmente aprender a conviver em sociedade) são fundamentos da escola. Por isso, vamos salvar a educação no nosso país. Não podemos deixar o discurso rancoroso e o fanatismo conduzirem o Brasil a uma situação semelhante ao que aconteceu em alguns países do oriente e da África, em que até o ensino para mulheres é proibido. O Talibã surgiu e se consolidou no Afeganistão e Paquistão em um contexto muito parecido...
A educação é libertadora... O conhecimento e a cultura rompem as amarras da ignorância, eles nos libertam...
"Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo..." (Paulo Freire)
Concordo. Antes de tudo admitir que a transformação é a necessidade latente em qualquer cultura.
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