Via Franca

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sábado, 26 de janeiro de 2019

O futuro da educação no nosso país


Há 28 anos atrás eu entrava pela primeira vez em uma sala de aula, num colégio da zona norte de São Paulo, mais precisamente no bairro do Tremembé... Eu estava ainda no meu primeiro ano de faculdade e enxergava o mundo com olhos bem diferentes de hoje...
Em todo este tempo nunca me arrependi da escolha pelo magistério e boa parte das minhas iniciativas empreendedoras (com raras exceções) foram ligadas diretamente à educação. Inclusive, no turismo, uma outra atividade que amo, trabalho com o pedagógico.
Tive altos e baixos nesta caminhada, mas nunca desisti... Pelo contrário, sempre acreditei no papel transformador e revolucionário da educação.
Mesmo com mais de duas décadas na mesma instituição de ensino, sou antenado ao que acontece em outras escolas e na academia. Leio bastante sobre pedagogia, ainda hoje revejo textos que li na época de faculdade e converso muito, mas muito mesmo com os meus pares.
Nesta semana uma amiga de infância da minha terra natal, Franca, entrou em contato comigo pois o seu filho mais velho, aluno do segundo ano do Ensino Médio, quer fazer faculdade de Geografia para ser professor... Fiquei exultante com a escolha dele e, principalmente pelo estímulo dado pela sua mãe, algo que não é comum quando um adolescente exterioriza a sua vontade de entrar na nossa carreira. Em alguns casos que ouvi de ex-alunos que manifestaram o desejo de ingressar em um curso de licenciatura, a família chegou a desencorajá-los (dá uma tristeza quando isso acontece)...
Como disse, sempre militei na área, briguei por melhores condições e participei ativamente do processo pedagógico em vários momentos. Vi como muitos tentaram diminuir a importância do nosso papel na sociedade (oras, a educação é a base de tudo), mas como disse anteriormente nunca desisti... Mas, nos últimos meses, tenho acompanhado com preocupação os acontecimentos e tentativas de desmoralização da escola e dos seus professores... O ápice de tudo isso, o que me deixou mais estarrecido foi a última fala da atual ministra da mulher, família e direitos humanos, Damares Alves, que defendeu o ensino familiar (isso mesmo, dado pelos pais da criança) como mais eficiente que aquele ministrado em sala de aula. Vou ser mais direto; ela defende que muitos pais possam ser amparados por lei para não enviarem os seus filhos para a escola, desde que desenvolvam o aprendizado em casa (hoje, TODOS tem por "força de lei" encaminhar a criança para uma instituição formal e legalizada de ensino)... Apesar do absurdo da proposta, ela tem apoiadores e como será encaminhada ao Congresso (podendo ser uma medida provisória) entendo que é defendida pelo governo.
Além de transformarem os educadores em párias, inimigos do país, estão tentando nos excluir da formação individual e coletiva dos futuros cidadãos ("cidadãos", caro presidente do INEP)... Fico imaginando como um médico receberia a notícia que a ida a hospitais e consultas clínicas não serem mais necessárias, bastando cada mãe ou pai, com a sua sensibilidade e conhecimento, diagnosticar o problema do seu filho e receitar o tratamento e os remédios necessários para a sua recuperação...
Fiquei com um nó na garganta, com um azedo no fundo da boca... Mas, confesso, nem com todos estes contratempos cederei. Continuarei firme no meu propósito e na pretensão de ser um diferencial na vida dos meus alunos... 
A educação é a base de tudo! Todas as sociedades que evoluíram significativamente nas últimas décadas usaram a educação como revolução e o professor como artífice de mudanças... A cultura, o conhecimento, a prática da coletividade e convivência (literalmente aprender a conviver em sociedade) são fundamentos da escola. Por isso, vamos salvar a educação no nosso país. Não podemos deixar o discurso rancoroso e o fanatismo conduzirem o Brasil a uma situação semelhante ao que aconteceu em alguns países do oriente e da África, em que até o ensino para mulheres é proibido. O Talibã surgiu e se consolidou no Afeganistão e Paquistão em um contexto muito parecido...
A educação é libertadora... O conhecimento e a cultura rompem as amarras da ignorância, eles nos libertam...
"Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo..." (Paulo Freire)

Um comentário:

  1. Concordo. Antes de tudo admitir que a transformação é a necessidade latente em qualquer cultura.

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