Via Franca

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quinta-feira, 15 de março de 2018

Insensatez...


Já dizia o poetinha Vinícius de Moraes, na linda letra de "Insensatez" que "vai meu coração, ouve a razão, usa só sinceridade, quem semeia vento, diz a razão, colhe sempre tempestade..."
Tudo bem que a canção (com uma linda melodia do Tom) discorre sobre as mazelas de uma mancada amorosa, mas a letra pode ser direcionada para "pisadas de bola" nossas, do cotidiano.
Como vivemos numa sociedade doente, que contamina à todos que não tem equilíbrio suficiente para abstrair-se neste "mondo cane", cometemos atos de insensatez com amados, conhecidos e estranhos.
Não nos respeitamos mais... Conversando ontem com o amigo Heber, ouvi que nós seres humanos, esquecemos do compromisso que temos, como indivíduos, com o coletivo e com a nossa espécie... Que viver no mundo que nos foi legado exige uma grande responsabilidade, pois será também herdado por outros. E olha que não conversávamos sobre meio ambiente, mas sobre educação (aquela formal, que é objeto primeiro da escola). Quem lida diretamente com a formação do ser humano vive entre o êxtase da possibilidade de ver mudanças futuras ou então sobre a frustração da realidade do presente... Paradoxal.
Não há sequer empatia e muitos ainda fazem da palavra "gratidão" uma das mais empregadas nas redes sociais!!! Enganar a quem? Mas, entendo bem a tentativa de minimizar este monstro que criamos e alimentamos, diariamente, que ainda vai nos devorar. Senão não haveria esperança de sobrevivência...
Por mais preparados que nos sentimos, ao abrir os olhos todas as manhãs, já há um bombardeio de situações dentro e fora das nossas casas que torna o nosso dia desafiador... E a meta, para a maioria, é voltar a fechá-los à noite sem ter se colocado em situação de risco.
E entre o abrir e fechar dos olhos para o sono (que muitas vezes sequer é suficiente ou tranquilo) vai aparecer abusadamente a insensatez...
Dia destes, eu que me considero uma pessoa normal, com capacidade de observação muito grande e um certo equilíbrio, fui pego numa armadilha da vida... Estava num ponto de ônibus, próximo à minha casa, esperando o coletivo para um encontro com um amigo, sem compromisso com hora, algo totalmente informal. Daí ao ver se aproximando o ônibus municipal, dei o sinal com antecedência e mesmo com o braço estendido ele simplesmente não parou... Acelerou e seguiu. Imediatamente, vinha atrás um outro, só que da linha intermunicipal (mais caro e que não serve o mesmo cartão de passes do anterior), onde o motorista viu o ocorrido e parou. Ficou indignado com a cena e me ofereceu carona (abrindo a porta de saída para que eu entrasse).
Aí vem o pior, pois ao invés de enxergar o lado positivo do ocorrido, com a postura humana do segundo motorista, só me vinha à mente todas as vezes que vi isso acontecer (pessoas ficarem no ponto, como aconteceu comigo), os relatos do Tato que inúmeras vezes também foi deixado por conta da sua maneira de vestir e pelos infinitos destratos que já presenciei com passageiros de todas as idades e origens... Ceguei, confesso. Tanto que ao descer no ponto que queria, estava parado no sinal vermelho, aquele que não havia aceitado me levar e fui até o motorista discutir com ele...
Sim, insensatez!!!
Ainda hoje, isso mexe comigo. Sinto-me tão doente quanto todos que não poupo críticas...
Ou mudamos radicalmente ou não sobreviveremos.
E que eu possa entender que "quem não pede perdão, nunca será perdoado..."
Insensatez...

Ah, interpretem como queiram a imagem que abre esta postagem, pois para mim ela é mais poesia do que estética, se é possível desassociar uma coisa da outra... E curtam a bela canção na voz do imortal maestro Antônio Brasileiro!!!!


Um comentário:

  1. Meu amigo, que belo e corajoso texto, que retrata bem nossa insensatez diária, alimentada através de profusas situações que nos colocam sempre à frente de muros chapiscados de ignorância, rebocados com a rigidez dos discursos midiáticos e pintados com a cor cinza que procura neutralizar qualquer tentativa de coloração. Mas atitudes como a sua, constroem pontes que suplantam esses muros e encontram do outro lado a necessária sensatez.

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