Via Franca

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quarta-feira, 28 de março de 2018

Centro de Memória do Circo


Ontem, dia 27 de março, foi comemorado o "Dia do Circo"...
Não há como lembrar dos famosos bordões como o "respeitável público, vai começar o maior espetáculo da Terra" ou "hoje tem marmelada? Tem sim senhor"...
De fato, o circo tradicional, única diversão genuína para toda a família, que circulava pelas pequenas cidades do interior do país, há décadas, praticamente não existe mais.
As principais famílias que tinham a sua trupe, com artistas variados, já se desfizeram do seu patrimônio e aquelas que ainda resistem estão bem descaracterizadas. Hoje, a imagem do circo moderno está associada à pirotecnia e tecnologia dos "Soleils" da vida... Não que eu não curta. Pelo contrário, aprecio bastante tanto que já fui em alguns dos caríssimos espetáculos que já aconteceram em São Paulo. Mas, aquela lona surrada que era montada na minha cidade natal, quando eu era criança, traz uma lembrança mágica, que até faz os "olhos suarem"...
lembro quando acontecia o desfile de artistas pelas ruas, com as carretas buzinando e a trupe fazendo estripulias e distribuindo balas e cortesias para as pessoas. Pareciam extraterrestres, que tinham sido deixados por uma nave-mãe e que nos convidavam para conhecer o mundo deles.
Eu morava em um bairro novo, de periferia, com muitos terrenos vazios e sempre um deles era usado para erguer toda a estrutura. Então, acompanhávamos todo o processo de montagem, as técnicas de subir a lona, os trabalhadores que depois identificávamos no picadeiro delineando a sua respectiva arte, os trailers enferrujados e até alguns ensaios que eram feitos do lado de fora.


Um espetáculo só não era suficiente... Queríamos ir em vários, pois a beleza das contorcionistas, a força dos trapezistas, a barulheira infernal dos motociclistas no "globo da morte", a lucidez da palhaçaria e até mesmo as apresentações musicais de duplas caipiras me marcaram muito (a primeira vez que vi o Elvis Presley ao vivo foi em um destes momentos, mesmo anos depois dele já ter morrido). Hoje sou favorável à abolição do uso de animais em espetáculos, mas confesso que a primeira vez que vi ao vivo (na realidade semi-vivos, infelizmente) leões, elefantes e camelos foi em um circo. Me deixaram impressionados e o estalar dos chicotes já nos incomodava muito naquela época, tanto que ao tentar ensinar os truques aos nossos cachorrinhos, imitando o que era feito lá, jamais usávamos a mesma crueldade dos domadores (já havia muita sensibilidade e empatia da nossa parte, mesmo na tenra idade), tanto que os nossos pets nunca nos obedeciam e rendiam várias gargalhadas e brincadeiras.
Vinham companhias grandes, mas as que mais nos divertiam eram as pequenas. Uma delas que me marcou muito foi a dos irmãos Aritana. Estrutura surrada, com artistas mambembes que apresentavam vários personagens ao longo do espetáculo e palhaços engraçadíssimos. Os seus protagonistas ficavam no comércio do bairro e, sem maquiagem, ficávamos ao lado, tentando chamar a sua atenção.
Por tudo isso, pela magia da sua arte, me sinto diferenciado na minha sensibilidade atual, respeitando muito todos eles, que sempre lutaram com muita dificuldade para a sua manutenção.




Para quem gosta tanto quanto eu e tem tantas lembranças também, há um espaço ultra legal e pouco conhecido na cidade de São Paulo, que é o Centro de Memória do Circo (eu chamo de "museu do circo", rsrs).
Está localizado na Galeria Olido, bem no centrão da cidade, ao lado da galeria do Rock, no Largo do Payssandu.
Ele foi inaugurado em 2009 e é mantido pela prefeitura, vinculado á Secretaria Municipal de Cultura. Foi montado à partir da doação do acervo dos circos Garcia e Nerino, além da coleção de Verônica Tamaoki.
Ele está dividido em duas áreas, uma no térreo e outro no primeiro andar, com muitas maquetes, depoimentos, figurinos, dados históricos (em uma super didática "linha do tempo") e até mesmo uma lembrança ao Café dos Artistas, que funcionava ao lado da galeria e reunia artistas diversos (inclusive circenses) nas décadas passadas, sempre as segundas-feiras (dia que não havia espetáculos, é óbvio).
Já visitei muitas exposições na minha vida, mas poucas conseguiram mexer tanto comigo... Lágrimas de alegria e saudosismo desciam no meu rosto. Foi único.
Super recomendo a qualquer um que tenha vivido uma infância rodeada das histórias e descobertas proporcionadas pela arte do picadeiro... Sublime.
Fica na Galeria Olido, na Avenida São João, 473, Centro, São Paulo (SP).
Funciona de quarta à segunda-feira das 10h às 20h (no final de semana abre às 13h).
Gratuito. Fone: (11) 3397-0177.
Aos pesquisadores tem um acervo de figurinos, cenários e outros adereços que não estão expostos, mas que podem ser visualizados á partir de um agendamento prévio.









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