Via Franca

Via Franca

sábado, 25 de abril de 2020

Coalhada caseira


Neste isolamento, sem muito o que fazer, deu vontade de postar algumas receitas fáceis e práticas, que me lembram muito a minha infância, aqui em Franca (estou agora na casa dos meus pais acompanhando a recuperação do meu velho).
Lá pela metade da década de 70, não havia tanta facilidade, nem muito dinheiro para comprar tudo o que a nossa família queria, então boa parte do que consumíamos era feito em casa, pela minha mãe (habilidosa e dedicada, já que trabalhava em dois períodos e ainda estudava em algumas noites e sábados)... Desde certas roupas que vestíamos, até boa parte da nossa alimentação era feita por ela. E a coalhada era presença comum na nossa casa, feita de maneira bem simples, mas que era disputada por todos (não durava muito na geladeira, rsrs)... Às vezes, era consumida in natura, com açúcar ou mel e outras vezes misturava-se pó de gelatina para dar sabor (ficava parecida com os iogurtes do supermercados que conhecíamos e chamávamos pela marca: "danone").
Como sempre foi uma unanimidade, mesmo hoje em dia ela continua sendo produzida por aqui.
Então, vou colocar o processo bem simples do leite coalhado.

Ela é feita com leite pasteurizado integral (tem que ser aquele de saquinho, não serve o de caixinha, UHT) e um potinho de 200g de iogurte natural, também integral.
Basta esquentar o leite, apagando o fogo quando começar a borbulhar, subindo bem pouquinho na panela (não deixe ferver, pois forma a nata).
É importante deixá-lo esfriar, mas não totalmente (tem que ficar "morninho"), para colocá-lo em um recipiente com tampa (de preferência de vidro) para acrescentar o iogurte natural (pode ser a coalhada pronta também).
Aqui, a minha mãe o coloca dentro do forno e retira depois de umas 8 ou 10 horas de repouso (bem abafado)... Há situações que ela amarrava um pano de prato, abafando bem o "pirex", quando precisava usar o forno...
Antes de consumir, é comum separar quantidade equivalente ao potinho de iogurte e guardar na geladeira, pois servirá de "isca" para uma nova coalhada (evita-se comprar outro iogurte natural).
Podem confiar em mim, fica extremamente saborosa e dá para ser usada em diversos pratos da culinária.
Vale a pena lembrar, que a coalhada ficará com uma parte mais sólida, que pode ser base para a famosa "coalhada seca" comum em restaurantes árabes e outra parte bem líquida, o soro, riquíssima em nutrientes do leite... Eu misturo as duas, coloco um pouco de adoçante e trago de volta as boas lembranças da infância vivida na casa de poucos cômodos construída no quintal do terreno dos meus avós...




quinta-feira, 23 de abril de 2020

Doce de laranja


Estou passando a quarentena na casa dos meus pais, em Franca. Além da agradável companhia deles, das minhas irmãs, cunhados e sobrinhos, há tempo para a preparação de muitas iguarias culinárias, principalmente doces, já que a minha mãe é uma quituteira/doceira de mão cheia, tal qual a minha querida Cora Coralina, poetisa maior dos Goyases...
Já fizemos, por estes dias, doces de mamão, banana com creme de limão, batata doce (há um "doce mais doce que o doce de batata doce", rsrs) e hoje finalizamos um dos meus preferidos, o de laranja.
Eu escrevi "finalizamos", pois ele começou a ser feito no dia 18 de abril... O processo é meticuloso e exige grande paciência e dedicação para ele ficar saboroso e sem amargor, já que é feito com a casca da laranja.

Aqui, usamos a "laranja da terra", colhida na chácara dos meus pais, que não é muito boa para o consumo in natura ou em suco, pois é bem azeda e também amarga muito perto da polpa branca. Mas, é fantástica para o feitio de doces (já citei anteriormente, feito com a casca dela)... Inclusive, era um dos tipos de cítricos que não faltavam nos pomares e quintais da minha infância, como a desaparecida cidra (outra citrácea usada para a confecção de doces), que raramente encontramos hoje.
É importante tirar um pouco da casca e, para isso, usamos um ralador, pois assim não perdemos muito dela. Esta parte é muito cansativa, mas vale o esforço, pois traz um resultado final maravilhoso. Ficou a cargo do meu pai, esta penosa tarefa (eu ajudei em mais ou menos um terço das laranjas, rsrs). Recomenda-se deixar dentro de uma bacia com água para não escurecer a casca.


Depois, cortamos em quatro partes e retiramos toda a polpa, que é descartada. Daí, as cascas foram colocadas em um compartimento com água, que deve ser trocada todos os dias, até perder o seu amargor (no nosso caso foram cinco dias).
Finalizada esta parte, após o quinto dia, cozinhamos as cascas até ficarem macias e escorremos esta água (com a quantidade que fizemos, de dez laranjas, cozinhou por um pouco mais de uma hora) . A calda é feita a parte, com açúcar a gosto (colocamos mais ou menos quatro copos) e água. Cravos da Índia, complementam o sabor... Depois de ferver, colocamos novamente as cascas e deixamos cozinhar mais um pouco para impregnar o sabor nela.
Ficou maravilhoso, sublime... E o melhor, remete aos meus tempos de infância, vividos entre colheres de pau e tachos de cobre ao redor do fogão à lenha do quintal de casa...
Ahh, o texto está na primeira pessoa do plural, mas a iguaria foi feita praticamente pela minha mãe, dona Elenice, que aprendeu esta arte com a mãe dela, a minha vó Zilda, que recebeu como herança imaterial também da sua mãe, a minha bisavó Tonha e assim vai, se perdendo no tempo e na história a origem desse dom de produzir doces, na minha família... E digo, serei eu o perpetuador dessa arte, rsrs (estou no caminho)...