Via Franca

Via Franca

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Quarentena - 34º dia

Quatro de maio... Segunda-feira...
Levantamos bem cedo para fazer uma tomografia no Hospital do Câncer, de Franca... Quem nos levou, dessa vez, foi a minha mãe... O medo do Covid-19 era visível, mas mesmo assim, sentimos um pouco de descaso por parte de muitas pessoas... Parece que poucos, como nós, estão levando a sério o isolamento e as recomendações para evitar o contágio. Ficamos tristes, por esta situação.
No hospital, fizeram umas marcações no tórax dele, como se fossem um X de alvo para atiradores... Demos muitas risadas disso, pois a sugestão era dar estilingues para os moleques lá de casa, deixar El Cid sem a camisa e usá-lo como "alvo móvel" para tiros de castanha de coquinho catarro... Isso rendeu piadas para quase uma semana.
Ele sempre curtiu muito o tempo que teve como militar, ou no tiro de guerra de Franca ou na Marinha, no Rio de Janeiro. Gostava muito da ordem, da hierarquia e, principalmente, de armas, em geral.
Sempre teve várias e se orgulhava de uma Winchester que levava sempre consigo nas pescarias, quando solteiro (teve que vendê-la depois do meu nascimento, mas ainda continuou com um Mauser, escondida no guarda-roupa). Uma dessas histórias, que ele contava sempre, foi numa viagem de diversão com outros amigos (iam de Lambretas) para o Rio Sapucaí-mirim, que atravessa municípios vizinhos da nossa cidade, ficaram dando tiros na superfície da água, só para ouvir o "assovio" que o projétil fazia ao se distanciar. Claro que isso, chamou a atenção de um segurança de uma fazenda próxima, que se dirigiu até o local para verificar o que estava ocorrendo (a caça sempre foi proibida na área). Ele contava que o homem chegou no grupo, os repreendeu e disse que teria que confiscar a arma. Um dos dos amigos do meu pai, conhecido como Barbeiro, que estava com a Winchester na mão, disse categoricamente, que seria um "ato temeroso" tentar retirar sozinho e desarmado, uma arma das mãos de quatro desconhecidos... Parece que o argumento foi bem razoável, pois o segurança foi demovido da sua ideia original, mas mesmo assim saiu ameaçando o grupo de denúncia na força policial. Claro, que eles nunca mais voltaram ao local e, acredito, seriam incapazes de atirar em alguém (em relação a El Cid, tenho certeza disso).
Após a morte do meu avô, ele também herdou um 38 cromado que foi entregue na delegacia, junto com a outra pistola, depois do decreto de desarmamento, de anos atrás... Era muito engraçado, pois sempre que íamos viajar, ele brincava que não podia esquecer de levar o "38 dele"... No caso, era o chinelo (ele calçava 38, rsrs)...
Sempre admirei o bom humor e a seriedade dele e, mesmo odiando armas, gostava de ouvir as suas boas histórias sobre elas.
 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário