Via Franca

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quinta-feira, 23 de abril de 2020

Doce de laranja


Estou passando a quarentena na casa dos meus pais, em Franca. Além da agradável companhia deles, das minhas irmãs, cunhados e sobrinhos, há tempo para a preparação de muitas iguarias culinárias, principalmente doces, já que a minha mãe é uma quituteira/doceira de mão cheia, tal qual a minha querida Cora Coralina, poetisa maior dos Goyases...
Já fizemos, por estes dias, doces de mamão, banana com creme de limão, batata doce (há um "doce mais doce que o doce de batata doce", rsrs) e hoje finalizamos um dos meus preferidos, o de laranja.
Eu escrevi "finalizamos", pois ele começou a ser feito no dia 18 de abril... O processo é meticuloso e exige grande paciência e dedicação para ele ficar saboroso e sem amargor, já que é feito com a casca da laranja.

Aqui, usamos a "laranja da terra", colhida na chácara dos meus pais, que não é muito boa para o consumo in natura ou em suco, pois é bem azeda e também amarga muito perto da polpa branca. Mas, é fantástica para o feitio de doces (já citei anteriormente, feito com a casca dela)... Inclusive, era um dos tipos de cítricos que não faltavam nos pomares e quintais da minha infância, como a desaparecida cidra (outra citrácea usada para a confecção de doces), que raramente encontramos hoje.
É importante tirar um pouco da casca e, para isso, usamos um ralador, pois assim não perdemos muito dela. Esta parte é muito cansativa, mas vale o esforço, pois traz um resultado final maravilhoso. Ficou a cargo do meu pai, esta penosa tarefa (eu ajudei em mais ou menos um terço das laranjas, rsrs). Recomenda-se deixar dentro de uma bacia com água para não escurecer a casca.


Depois, cortamos em quatro partes e retiramos toda a polpa, que é descartada. Daí, as cascas foram colocadas em um compartimento com água, que deve ser trocada todos os dias, até perder o seu amargor (no nosso caso foram cinco dias).
Finalizada esta parte, após o quinto dia, cozinhamos as cascas até ficarem macias e escorremos esta água (com a quantidade que fizemos, de dez laranjas, cozinhou por um pouco mais de uma hora) . A calda é feita a parte, com açúcar a gosto (colocamos mais ou menos quatro copos) e água. Cravos da Índia, complementam o sabor... Depois de ferver, colocamos novamente as cascas e deixamos cozinhar mais um pouco para impregnar o sabor nela.
Ficou maravilhoso, sublime... E o melhor, remete aos meus tempos de infância, vividos entre colheres de pau e tachos de cobre ao redor do fogão à lenha do quintal de casa...
Ahh, o texto está na primeira pessoa do plural, mas a iguaria foi feita praticamente pela minha mãe, dona Elenice, que aprendeu esta arte com a mãe dela, a minha vó Zilda, que recebeu como herança imaterial também da sua mãe, a minha bisavó Tonha e assim vai, se perdendo no tempo e na história a origem desse dom de produzir doces, na minha família... E digo, serei eu o perpetuador dessa arte, rsrs (estou no caminho)...









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